sexta-feira, 14 de junho de 2013



“Eu vi coisas que vocês nunca acreditariam... ”
( Roy Batty, Replicante, em seus momentos finais de vida)

Filmes inacreditáveis - 2 

Frank, o destemido (Fearless Frank, EUA, 1967).

      

        Olá, humanos! Voltei.  Aquela matéria sobre a Galacticon-Comic Palooza 2013 que eu estou prometendo a semanas vai demorar, pois nosso correspondente no evento ainda não acabou de desfazer as malas. Ou algo assim, sei lá. Como dizem que não se deve apressar o "artista", vou deixando de lado a matéria, por enquanto.
         Dias 22 (sábado) e 23 (domingo) de junho, estarei na Multiverso Comic Con em Porto Alegre, cobrindo o evento para posterior publicação de textos, fotos e links de vídeos exclusivos. Aguardem!
           Quando escrevo essas linhas, a bela Angelina  Jolie já tornou pública sua mastectomia radical há mais ou menos duas semanas.  Portadora de uma mutação que aumenta o risco de desenvolver câncer de mama, ela resolveu eliminar essa possibilidade. Apesar de famosa por esquisitices como uma história mal contada sobre relações incestuosas com  o irmão, o hábito de fazer pequenos cortes à faca nos antebraços, e ter sido casada com Billy Bob Thornton, talvez a decisão por essa cirurgia tenha sido a mais racional decisão da bela ganhadora do Oscar de melhor atriz coadjuvante por "Garota Interrompida".
        Mas esquisito mesmo, pra não dizer bizarro foi o filme de estréia do seu Jon, o pai da Angelina. Sim, isso mesmo. Estou falando do "Papi" da Angelina, o Sr. Jon Voight, astro de filmes antológicos como, “Perdidos na noite” (co-estrelado por Dustin Hoffman) e “Conrack” (provavelmente o filme mais exibido nas aulas dos cursos de pedagogia e licenciaturas das universidades brasileiras , nos anos 80 e 90).

        Trata-se de Fearless Frank , corretamente traduzido no Brasil como Frank, o destemido.  Muito antes da Marvel emplacar no cinema com seus blockbusters como "Homem de Ferro", "Capitão América" ou "os vingadores", no longínquo ano de 1967, Philip Kaufman, futuramente conhecido como roteirista de "Caçadores da Arca Perdida" entre vários outros trabalhos, escreveu e dirigiu essa pérola do cinema super-heróico estrelada por Jon Voight no papel título.
       Resolvi falar desse filme pois:

        1-É um filme de grande interesse histórico, que nos remete a uma era em que o blockbuster ainda não tinha sido inventado e o espaço para experimentação (Jack Nicholson e Bob Rafelson que o digam!) ainda era farto em Hollywood. 
            2- É, realmente, um filme inacreditável. A última vez que o vi foi a mais de 30 anos, após ter estreado na Sessão de Gala da Gobo e ser repetido por cinco anos no Corujão. Depois foi parar na Record (antiga, não a do Edir Macedo) e desapareceu. Nem mesmo nos EUA ele é fácil de ser encontrado. Poucos anos atrás, caçadores de raridades viajavam para consegui-lo em VHS...Na França! Reza a lenda que o Netflix americano conseguiu disponibilizá-lo antes mesmo dele ter saído em DVD .
             3-  Esse filme influenciou diretamente outro grande sucesso  mainstream, já nos anos 70 , Perdidos na noite ( Não o programa de TV de Fausto Silva na Band, mas o filme Midnight Cowboy), também estrelado por Voight.
                    4-  Também resolvi falar sobre esse filme, para a molecada com menos de 30 saber quem é esse tiozinho, pai da Angelina, que não se destacou no cinema apenas fazendo o presidente dos Estados Unidos  na série "Transformers", do Michael Bay.
                        5- Como eu já disse, nosso enviado à  
Galacticon-2013 ainda não me passou o artigo dele sobre a convenção de Houston...

        Esse filme é o tipo de coisa que  se poderia esperar se Salvador Dali, Stan Lee e Ed Wood se reunissem para fazer um filme. A trama é deliciosamente trash-besteirol-surrealista:
         O jovem ingênuo, bondoso, burro e caipira Frank (voight) resolve deixar a fazenda de seus pais e o rio de sua juventude, atendendo ao irresistível apelo da aventura e ao desejo de "conquistar a cidade grande". No caminho, ele conhece o narrador do filme (Ken Nordine, narrador de incontáveis filmes e desenhos animados, como a voz original do narrador em George, o rei da Floresta e Supergalo), chamado apenas de "estranho", que está  vagando pela estrada com um uma pesada máquina de escrever (daquelas que fazem o laptop mais pesadão parecer um smartfone), na qual  pretende escrever sobre a vida na cidade grande.





          Mas, ao chegar na cidade, ele conhece a bela, boazuda e um pouco menos burra, Plethora (Monique Van Vooren) teúda e manteúda do chefão do crime conhecido apenas como "O chefe" (Lou Gilbert).



      Mas que Plethora!!!


       Plethora, cujo nome vem do grego e  significa "fartura", "abundância" (quesitos nos  quais a moça honra o nome que tem) vive uma vida infeliz, escravizada pelo Chefe e vigiada o tempo todo por seus "garotos", o Gato, o Rato, Agulhas, e o Nariz de Parafuso. 
Frank (Jon Voight) e Plethora (Monique Van Vooren): um caso muito complicado...


       Frank descobre, da pior maneira, que a vida na cidade grande não é nada fácil. Enciumado, o chefe manda seus garotos "apagarem" Frank. Metralhado, é deixado para morrer num beco sujo, sob a água da chuva que cai, lavando a sujeira das ruas. Não. Não é Taxi Driver, mas passa perto. Frank está morto.

Frank devia perguntar às garotas se elas namoram ou namoraram 
mafiosos, antes de convidá-las para um rolézinho...


       Mas nem tudo está perdido! O cadáver do jovem caipira é encontrado por um bondoso cientista louco (!), conhecido como "O Bom Doutor" (Severn Darden, um dos atores mais Cult dos anos 60 e 70, com papéis  geniais em filmes como "Batalha no Planeta dos macacos" e "A louca missão do Dr. Jones", além de zilhões de participações em séries de TV, até os anos 80). 

O Bom Doutor (Severn Darden) e sua criatura, Frank (Jon Voight): "It's Alive!!!! It's Alive!!!!"


        "O bom doutor" e seu fiel mordomo, Alfred (santa originalidade, Bátima!!!), levam Frank para a sua cobertura, onde o corpo sem vida do ingênuo rapaz é reanimado e convertido numa máquina de combate ao crime, no paladino da justiça, da verdade e dos bons costumes (bom, nem tanto), Frank, o destemido.

Frank (Jon Voight): Repaginado e pronto para o combate.



          Claro, como todo herói que se preza, Frank também tem o seu momento Begins.  Após sua ressurreição  o jovem caipira tem sua indumentária jeca, jogada fora e ganha um terno cinza super style, que lembra muito o que Sean Conery usava nos primeiros filmes de 007, mas com direito a um par de óculos escuros tremendamente cool
      Mas como a capa não faz o herói, além do uniforme, Frank precisa aprender a usar seus novos poderes, que incluem, poder de vôo, super-força, super-agilidade, invulnerabilidade, etiqueta, dicção e gramática perfeitas, e um tremendo sorriso de cafajeste, pra ninguém botar defeito. Tudo muito, mas muito diferente mesmo, do sorriso ingênuo do caipira que faleceu naquele beco imundo. E, como o poder corrompe, com superpoderes então...

Nariz de parafuso (no original, screwnose) mostrando porque ele é o maior arrombador da cidade.

         E os dias passam enquanto o Bom doutor e Alfred, bem como a filha do Bom doutor, sintomaticamente chamada Lois, vão educando e treinando o jovem para realizar grandes feitos. À medida que seu pupilo vai conquistando novas habilidades, o Bom Doutor lhe revela parte dos incríveis segredos dos antigos, responsáveis, entre outras coisas, por seus poderes (que agora, para desepero do Bom Doutor incluem  a capacidade de satisfazer a jovem Lois por meio de sobre-humanas habilidades sexuais) e por sua ambição cada vez maior. Mas o público não fica sabendo de nada, pois o Bom Doutor tem o cuidado de cochichar  tais segredos nos ouvidos de seu pupilo.
Nananina não! Os incríveis segredos dos antigos são apenas para os iniciados...


Lois (Joan darling): cheia de amor pra dar...

        À medida que Frank vai limpando a cidade, também vai maculando sua alma. Ninguém além do Bom Doutor parece ligar muito para suas façanhas, fato que o enfurece e o leva a guerrear contra tudo e todos. 

Frank conquistou o mundo. Mas perdeu sua alma...


Frank, corrompendo (ou sendo corrompido???) pela inocente Lois, que encontrou usos mais práticos para os incríveis segredos dos antigos

        É nesse momento que surge Claude, o irmão gêmeo maligno do Bom Doutor, também interpretado por Darden. Com seu pesado sotaque alemão, sempre vestindo roupas cirúrgicas e com seu fiel pássaro no ombro (33 anos antes de Mickey Rourke e sua cacatua em "Homem de Ferro 2!"). 
Da esquerda para a direita, de pé: O chefe,  e Claude. Sentados: Os garotos e "the bird".


    Caberá a ele, também um herdeiro dos incríveis segredos dos antigos, a tarefa de criar o " Falso Frank " para combater o nosso herói.

     Só que Plethora se recusa a crer que aquele boneco mal costurado (também interpretado por Jon Voight) esteja destinado a ser um novo capanga do chefe e, por meio de seu amor, altera a programação subliminar do Falso Frank, tornando-o bom. Daí por diante o filme adquire contornos um tanto moralistas, mas nada que impeça poderoso o fluxo de piadas, principalmente visuais, cheias de metalinguagem e ironia de baixíssmo Ph.
          O filme tem diversas cenas hilárias, como a coreografia dos capangas para que O chefe desça a a escadaria (e que não dá certo), as divagações filosóficas do Bom Doutor, o primeiro Vôo de Frank, e por aí vai.

         O uso de cenas divididas em quadrados como numa HQ é um dos recursos que fazem dessa comédia underground algo tão original. Antes de Ang Lee usar esse visual em "Hulk" ou do mesmo ter sido feito na série "24 horas", temos um filme de quadrinhos, que sequer era baseado em quadrinhos, lançando mão dessa estética. E, como não podia deixar de ser, esse filme também é fortemente influenciado pelo clima camp da série de TV de Batman, que estava em sua segunda temporada, quando da realização dessa película.

Pois é! Esse "Pow" acontece quando Frank soca os capangas do Chefe. E pensar que Adam West e Jon Voight podiam ter combatido o crime juntos...que glorioso crossover teria sido!

          Confesso que a primeira vez que vi esse filme com som original, fiquei apreensivo. Minhas lembranças eram da TV, da nata da dublagem brasileira dos ano 70, que conferia um ar de malandragem e malemolência que eu não imaginava existitrem no original. E não é que eu queimei a língua? A poderosa e sombria Voz de Ken Nordine,  músico de jazz, narrador de diversos trailers, desenhos animados e séries de TV, empresta uma   imponência "sóbria" que só torna o filme mais hilariamente cult
        E, para concluir, é digno de nota o fato de que Jon Voight, compôs seu Joe Buck, um ingênuo Cowboy que vem para Nova York conquistar a cidade como gigolô em "Perdidos na noite " (Midnight Cowboy, 1969) diretamente da mesma forma que usou para criar o Frank. Quase todos os maneirismos do caipira destinado a se transformar em combatente do crime estão presentes no filme do infeliz prostituto: O sorriso mongo, o sotaque redneck, o jeito de rir balançando a cabeça, o mesmo olhar abestalhado. Tudo igual, exceto pelo fato de que Joe Buck tinha melhor gosto para roupas. Agora me vem a cabeça que , em Kill Bill Parte 1, tem aquele sujeito no hospital, aquele com o Pussy Wagon, que vive dizendo "My name is Buck, I came to F...., bom acho que vocês entenderam onde eu quero chegar. Joe também veio para NY para, digamos, "mandar ver". Terá sido essa a inspiração de Tarantino? Talvez jamais saibamos...
        Um grande abraço, amigos leitores e até breve.
         Vida longa e próspera!
          FUI!!!!!




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