quinta-feira, 4 de julho de 2013

Cinema- Juan Dos Mortos Crítica




         "De pié, famélica legión..." 

              -La Internacional


       Juan dos Mortos (Espanha, Cuba-2011, 92 min)




       

       Por Zaius Primati
       
       Aproveitando o lançamento recente de "Guerra Mundial Z", resolvi ir na contramão da mídia e assistir a essa co-produção Cubano-espanhola de 2011, que já deu as caras no Brasil em alguns festivais nos últimos dois anos, mas só agora é lançada "comercialmente" no Brasil. 
     " Iiiirrrkkkk! Mais um filme de Zumbis!", dirão, com um certo ar entre o blasé e o nojo, os hipsters que frequentam a sala do Guion Center Nova Olaria, em Porto Alegre, onde assisti, sozinho, a uma sessão dessa pérola da sétima arte. 
     Bueno, antes de começar  a falar do filme, cabe aqui um pequeno esclarecimento. Os Zombie movies, já a algum tempo estão deixando o seu gueto trash e migrando para o cinemão.  Já há um subgênero muito bem estabelecido desses filmes, que é o das comédias de Zumbi, tais como "Todo mundo quase morto", "Fido o mascote" e o recente "Cockneys versus Zombies". Acontece que esse subgênero, também possui suas ramificações. Temos a comédia romântica de Zumbis em "Meu namorado é um Zumbi", o bromance  comedy  no já citado "Todo mundo quase morto", a comédia policial zumbi no recente "Zombio 2", de Peter Baiestrorf, e o Zombie mockumentary   em filmes como o Genial Pushin' up Daysies" , cujo diretor e roteirista, Patrick Franklin, estará sendo entrevistado nesse blog em breve. 
       Juan dos mortos inaugura um novo subgênero: a comédia política de desmortos. Só conferir essa bizarra mistura já valeria o ingresso (desde que o cinema fosse confortável, mas isso eu comento depois). Então fui conferir o tal "Juan de los muertos".
           O filme conta as desventuras de Juan (Alexis Diáz Villegas, numa inspirada interpretação) e seus amigos, um bando de vagais, malandros e desocupados (adoro pleonasmos!), moradores de Havana, que vivem de pequenos furtos e golpes diversos. Um belo dia, Havana e, provavelmente, todo o resto da ilha dos irmãos Castro, passa por uma infestação Zumbi. A princípio, Juan e Lázaro, seu melhor amigo, demoram para entender que diabos está acontecendo. Em sua primeira experiência (involuntária) com extermínio de zumbis, eles sofrem pra burro para despachar de vez um casal de velhinhos mortos-vivos, pensando tratar-se de vampiros. Levemos em conta que  eles moram em Cuba e, seja devido ao bloqueio ianque, seja devido à precariedade e censura dos meios de comunicação, eles demoram um certo tempo para entender que raio de monstros são esses, que começam a invadir sua comunidade, mordendo enlouquecidamente tudo que se mexe.  
        Quando a infestação já tomou boa parte de Havana, Juan e seus amigos quase não percebem. Afinal, todo mundo continua andando pelas ruas com a mesma lentidão e desânimo com os quais todos já estavam acostumados, desde o início  da revolução. Os carros continuam caindo aos pedaços e a pintura descascada de boa parte dos prédios de La Habana Vieja já era, por si só, bem pós-apocalíptica, mesmo antes da horda de mortos vivos invadir a ilha. As emissoras do governo falam de dissidentes pagos pelos Estados Unidos. Só que Juan, "um sobrevivente" como ele mesmo se define, não cai nessa.    
   Veterano da guerra de Angola, onde muitos cubanos lutaram ao lado dos angolanos contra os portugueses, um quase marielito dos anos 80, Juan, como de resto praticamente todos os seus conterrâneos, a muito aprendeu a não levar o que o governo diz ao pé da letra.
     E então, como bom latino-americano que se preza, ele resolve lucrar com a crise com toda a sua ginga e malemolência. E abre um negócio de extermínio (ou remoção?) de zumbis, cujo singelo slogan é "Juan de los muertos. Matamos a sus entes queridos". Pronto! Se Nova York tem os caça-fantasmas, "La Habana tambien puede, por supuesto!" Só que, no terceiro mundo, tudo sempre é mais precário. E precariedade é o que não falta na rotina de Juan e seus amigos.
   Daí por diante, o diretor Alejandro Brugués, descarrega sua metralhadora giratória sem dó nem piedade contra os políticos, o povo, as forças de segurança, os dissidentes (sobra até para Yoani Sanchez!) os idosos, as prostitutas, os turistas sexuais espanhóis (que participaram recentemente da Copa das Confederações) e, até, os metrossexuais (isso não é chutar cachorro morto???). 
        Reza a lenda que esse filme foi financiado, em parte, pelo governo cubano. Duvido muito que o Fidel o tenha assistido. Se bobear, eles deram o aval para essa curiosa produção achando que ela teria uma mensagem anti-americana. Ledo engano! Juan e sua turma estão de saco cheio (no caso de Lázaro, literalmente) de Fidel, dos dissidentes, dos ianques, da vizinhança, enfim da P#@$*& que o P@#@$%$!!! O que eles querem não é necessariamente a liberdade. Acima de tudo, eles querem é se dar bem. Me lembra muito um país que eu conhecia faz algumas semanas...
     O filme é uma sucessão de piadas de baixíssimo ph , deliciosamente cínicas e corrosivas, ilustradas por cenas hilárias e geniais como a do primeiro ataque dos exterminadores (com direito a bullet time no estilo "The Matrix") a captura de Juan e sua turma pelas forças de segurança revolucionárias e a alucinada coreografia do "mambo de la muerte", executada magistralmente por Juan e uma "parceira" totalmente fora- da- casinha...
      Mas é na antológica cena final que a alma do filme se descortina. A inesperada decisão de Juan, ao som de  uma versão Punk Rock de "My Way" e a sequência de créditos que se segue, não deixa dúvidas. Como diria Dorothy de "O mágico de Oz": Não existe lugar como o lar. Não importa se ele está de pernas para o ar, cheio de políticos corruptos, balas perdidas, dengue, hospitais caindo aos pedaços, Estádios padrão FIFA construídos com o nosso dinheiro, ou até mesmo, uma horda de mortos-vivos esfomeados. O lar pode ser uma droga. Mas ainda é o lar.


PS: 
   O cine Guion Nova Olaria é um "espetáculo à parte". A última vez em que estive lá foi em 1997, levado por uma ex-namorada riponga para assistir "Vá onde seu coração mandar". É. Eu também acho. Eu mereço! Na ocasião ela achou que devia aumentar seu nível cultural. Nunca mais nos vimos. Espero que ela tenha conseguido.
        O filme que assisti para essa resenha foi exibido numa salinha   com uma tela ridiculamente minúscula, colocada num ângulo no qual você só pode escolher o que entortar: o pescoço ou a coluna (olhe diretamente para frente e não verá nada), e poltronas com a inclinação mais anti-ergonômica que eu já vi. Parecem feitas para que você saia correndo e poupe o projecionista de ter que trabalhar.
Tudo isso, pela módica quantia de 14 pilas! Considerando que a pré-estreia desse filme foi num multiplex com tela de verdade, som digital e poltronas  confortáveis, e pelo preço de sete reais, eu fiz um mal negócio. 
       Esse cinema, como sala de projeção, é uma ótima galeria de arte, onde estão expostas estátuas, quadros, etc. Também vendem-se livros e discos, a preços astronômicos. Pena que a simpatia dos funcionários não seja tão elevada quanto o nível cultural (e o preço) de suas atrações. Mas os hipsters devem gostar. Afinal, o que seria deles se a plebe tivesse acesso ao lazer e à cultura, não é mesmo?
       Abraços simiescos e até o próximo post!
       FUI!!!!


segunda-feira, 1 de julho de 2013

Multiverso Comic Con- Lançamento da Graphic Novel "LAÇOS", da turma da Monica.




           Multiverso Comic Con 2013

         Os 50 anos da Turma da Mônica - 
         Laços
         Painel com o editor e os autores





           Por zaius Primati


          Na recente Comic Con 2013, foi feito o lançamento nacional da graphic novel Laços, parte do projeto Graphic MSP.  Num descontraído painel, Os autores, Vitor Cafaggi (texto, arte / cores), Lu Cafaggi (texto e arte) e Priscilla Tramontano (cores) e o editor Sidney Gusman, da Maurício de Souza Produções contaram um pouco a respeito do projeto Graphic MSP, no qual Laços está inserido e conversaram a respeito de sua graphic novel.

       A trama, que envolve o desaparecimento de floquinho, o cão do Cebolinha, e a "expedição" formada pela turma para trazê-lo de volta, é uma emocionante aventura, que remete a filmes como "Goonies" e "Conta comigo". Ao longo das páginas, novos e  antigos leitores irão se emocionar com uma história que, se não é "Turma da Mônica  begins", passa muito perto disso. A história, além de seus próprios méritos (estou me esforçando para não soltar spoilers), é uma bela homenagem feita por  verdadeiros fãs da baixinha "dentuça e golducha". No painel, os irmãos Cafaggi  declararam seu amor pelos personagens. "Eles são meus amigos"-disse Lu-"Cresci com eles".
      Todo esse amor e cuidado se reflete na história. Em "Laços", os leitores  irão se deliciar com diversos easter eggs estrategicamente plantados ao longo da obra. Referências a antigas histórias, e, até mesmo, erros históricos de edição, como uma famosa história em que Magali é retratada com uma...Aháááá! Sorry, gente. Vocês terão que conferir pessoalmente. A arte dos irmãos Cafaggi e as cores de Priscilla Tramontano nos transportam para um universo que consegue ser ao mesmo tempo mágico, comovente e engraçado, lançando um outro olhar sobre a turma enquanto traz de volta alguns dos mais marcantes momentos de Mônica e seus amigos.  O entusiasmo contagiante da equipe você pode conferir nesse pequeno clipe Sobre a gênese do projeto Graphic MSP, com destaque para o recente "Laços":





             E, sem querer soltar Spoilers,  e já soltando, em breve teremos uma visita muito especial à turma do Penadinho dentro da estética do projeto MSP. Brevemente nas bancas...
       Abraços simiescos!
         Fui!!!






         

"BATTLESTAR GALACTICA, O FILME", PODE ESTAR MAIS PRÓXIMO DE ACONTECER...




     Cinema - 

  BATTLESTAR GALACTICA - THE MOVIE


   Bryan Singer está revisando o roteiro de   
   Battlestar Galactica. E, após o próximo X- men,
   Pode ser seu próximo projeto. Saiba os motivos...                                                                                                    
        

bryansingerbattlestar.jpg
Bryan Singer e uma cabeça de centurião cilônio da série clássica  "Battlestar Galactica".
Fãs de X-Men reconhecerão a "piada interna".


       Por Zaius Primati

        "Existem aqueles que creem  que a vida aqui, começou,la fora, do outro lado do universo, com tribos de humanos, que podem ter sido os antepassados dos egípcios ou dos toltecas, ou dos maias.E alguns acreditam, que ainda pode existir irmãos do homem, que até mesmo agora, estariam lutando para sobreviver, em algum lugar, além dos céus." 

              Com a narração acima iniciavam os episódios de uma das mais icônicas séries de ficção científica de todos os tempos, Battlestar Galactica, no Brasil, batizada, Galactica, Batalha nas estrelas. A série teve um remake em uma mini-série em 2003 que serviu de piloto para o seriado produzido entre 2004 e 2009.

               Desde o início da década passada, rumores davam como certo um fime de Galactica para o cinema. O projeto acabou virando o remake televisivo produzido e escrito por Ronald Moore, que pouco tempo antes havia "quebrado os pratos" com seus colegas de produção das séries de Star Trek. Com o final do remake, os boatos retornaram. Bryan Singer sempre deixou claro que gostaria de dirigir um filme de BSG, como, chamam os fãs, para o cinema. Entretanto, após os dois primeiros X-´Men, vieram "Superman Returns", "Jack, The Giant Killer "e, agora ele está dirigindo " X-men,  days of a future past". 

              Pois bem, não gosto de dar uma de mãe Diná. Mas há MUITO BONS motivos para crer que Bryan Singer terá, como seu próximo projeto no cinema "Battlestar Galactica- The movie". Em maio passado, visitando a GALACTICON 2013, em Houston, Texas, nosso correspondente,  o Sr. LL Jones, participou de uma coletiva de imprensa na qual as perguntas eram feitas pelos fãs.  Transcrevo abaixo um trecho do artigo de Jones, que estará na integra esta semana neste blog:

"Na manhã seguinte, tivemos uma coletiva de imprensa com os atores. Sim, eu disse  “nós tivemos” porque as perguntas para os atores foram feitas pelos fãs, não pelos jornalistas. De quebra, fomos apresentados a alguns dos atores que não estavam presentes na abertura. Durante essa coletiva, fomos informados por Richard Hatch, o capitão Apollo original, que Bryan Singer está realmente trabalhando no roteiro de um filme de cinema para Galactica, mas seria uma nova releitura da série clássica, sem ligações com as encarnações existentes de BSG."




           O que esse relato tem de tão especial? Bueno, para começar, é o mais recente de toda a WEB  segundo o Google (01/07/2013, 17:50). O Collider e o Den of The Geek,  os  outros sites com notícias mais frescas a respeito,  falam de uma "possibilidade" em fevereiro último.  Além disso,  NENHUM desses sites, na ocasião, confirmou o boato de que seria uma releitura da série clássica. Então temos motivos para nos animar.  Claro, Singer é conhecido por seus impulsos súbitos. Foi dele a decisão não participar, por conflito de agendas, de  X-Men III e se dedicar a "Superman Returns" um projeto que ele "cultivava" há muitos anos. Só que, assim como no caso de Superman, Singer sempre foi também um grande fã das aventuras dos últimos sobreviventes das colônias da humanidade, em sua "fuga da tirania cilônia..."

           O Den of the Geek, aposta que, caso X-men, Days of a future Past seja um grande sucesso de bilheteria, a FOX tentará negociar a volta imediata de Singer para a produção de uma sequência, a ser lançada em 2016. Tudo dependeria do que a Fox teria a lhe oferecer. Considerando que ele já está trabalhando no roteiro e que ele já está bastante avançado, as chances de que vejamos BSG no cinema dentro de dois anos e meio a três anos podem são, no mínimo de 50%. 
           A matéria sobre a visita à GALACTICON 2013 você acompanha na íntegra, aqui, ao longo da semana. Assim que eu postar o que falta da Multiverso Comic Con em Porto Alegre.
            Abraços simiescos!
            Fui!
      

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Uma Conversa com o escritor Christopher Kastensmidt



        Multiverso Comic Con 2013- Mini entrevista

              Um papo com Christopher Kastensmidt.

           Por Zaius Primati

        Que a cena da literatura fantástica  vive uma efervescência nunca antes vista no Brasil, todo mundo sabe. Parece que, nos últimos anos, o público e parte da crítica têm se despido de seus preconceitos e olhado com mais atenção para os mundos ficcionais que transcendem o aqui-agora, ou aqueles que o reinterpretam, sob um novo ponto de vista.
         O que pouca gente sabe, fora do circuito literário e do universo dos fãs, é que esse tipo de literatura, mesmo com tramas focadas na história e na cultura brasileira está ganhando novos leitores até mesmo no disputadíssimo mercado norte-americano.    

          Durante a Multiverso Comic Con, tive a oportunidade de conversar rapidamente com Christopher Kastensmidt, norte-americano, natural do Texas, radicado em Porto Alegre. Christopher é autor da série de livros de fantasia "A bandeira do Elefante e da Arara". Ele foi finalista do prestigiado prêmio NEBULA, em 2011 e vencedor do Realms of Fantasy Reader's Choice Awards por sua noveleta "O encontro fortuito de Gerard Van Oost e Oludara", o primeiro livro da série, que narra as aventuras de um explorador Holandês e um africano Iorubá trazido como escravo ao Brasil do século XVI.
           Apesar de sua agenda apertada no evento, Christopher, muito gentilmente, arranjou um tempinho para nos falar sobre a série, a recepção do livro entre os leitores norte americanos e sobre os autores que mais o influenciaram. Assista no vídeo abaixo:



        
                 Nos próximos Posts:
    50 anos da turma da mônica, Lançamento da Graphic Novel "Laços", na Multiverso Comic Con, em Porto Alegre. 
  Em breve...
   
                  Fui!




Cinema: Star Trek - Além da escuridão

      

      Cinema

      Star Trek-Além da escuridão. Crítica

      



       Por Zaius Primati





        Logo hoje, quando estreia o blockbuster "Guerra Mundial Z", com o cara que é casado com a Angelina Jolie (qual é mesmo o nome dele? Brincadeirinha. Eu sei que é o cara que fez aquele clássico chamado "Lendas da Paixão, kkkk), sou lembrado por amigos que Star Trek-Além da escuridão já estreou faz "horas" e eu não fiz minha resenha, algo imperdoável para um trekker old school como eu. É que as últimas semanas foram loucas pra todo mundo (alguém tem dúvida disso???) e, além da revolução em curso, também estou me revolucionando profissionalmente. Só que, além de tudo isso, também tenho uma vida familiar e pessoal, que também exige atenção. Mas lá vai:
       Começo perguntando: Além da escuridão-Star Trek  ou  Star Trek -Além da Escuridão?  Não. Não foi erro de digitação.  Você viu mais ou menos o que eu li nos cartazes standups dos cinemas. Muita gente não sabe que se trata de um filme de Jornada nas estrelas, como chamávamos a franquia, antes que a Paramount resolvesse "fortalecer sua marca", assim como fez a Disney, transformando o nosso velho conhecido Caco, o sapo, num tal de Kermit. Nos cartazes de cinema, o nome da franquia aparece em letras pequenas, quase como se a equipe de marketing tivesse vergonha de dizer para a gurizada "sim, é aquela série que tem o doutor Spock (aaaarrrgghhh!!), mas é coisa nova, cheia de ação, aventura e coisa e tal". E, se as novas gerações parecem ter aversão ao clássico, paciência, adote-se essa estratégia de dizer que "esse não é o Star Trek de seus pais".
      Quanto ao filme em si, JJ Abrams, já provou que é um bom artesão, que sabe fazer cenas de ação espetaculares, que sabe muito bem dosar o humor, a aventura, o mistério. O filme é realmente uma montanha russa de emoções e conta com uma trilha sonora  competente de Michael Giacchino e um visual belíssimo, especialmente se visto em IMAX 3D, como o que eu encontrei no Cinespaço Bourbon Wallig, em Porto Alegre.
       O filme certamente funciona. Logo de cara, encontramos Kirk e McCoy, correndo por suas vidas, tentando escapar de uma tribo de alienígenas de um planeta primitivo que eles estavam monitorando. A cena lembra muito, e não por acaso, a desabalada carreira de Indiana Jones, no início de "Os Caçadores da Arca Perdida", afinal, Spielberg é mais do que o ídolo máximo de JJ Abrams. É seu mentor e também o cara que lhe arranjou o emprego de seus sonhos: dirigir o próximo Star Wars (antes conhecido como "Guerra nas estrelas"), ao sugeri-lo para George Lucas e a nova equipe de produção da saga Jedi.
       A construção de personagens é boa. Temos um engenheiro Scotty tão apaixonado por sua Enterprise quanto o original (que é homenageado numa cena na qual o teletransporte é operado pelo filho do ator que o interpretava, James Doohan), só que mais engraçado e maluco. O Sr. Sulu e o alferes Tchecov também fazem por merecer, embora com muito menos destaque no filme. E McCoy continua com seu humor ácido, lembrando muito o personagem da série original, inclusive fisicamente. E Uhura, continua forte, decidida, em certas cenas, roubando o filme de Kirk e Spock.
           O filme tem vários easter eggs, referências à série clássica, que fazem as delícias dos fãs do original sem comprometer a ação ou o entendimento de quem nunca viu nada de Star Trek.  Michael Giacchino, como sempre, com seu piano e orquestra, sabe como nos trazer para dentro da história com apenas alguns acordes.
        Se você nunca viu nada de Star Trek, vai achar esse filme muito bom, talvez até excelente. Se for o caso, pode parar de ler aqui mesmo.
           Do ponto de vista dos fãs e , também, dos cinéfilos em geral, o filme tem vários furos, que podem ser creditados à "licenças poéticas", se você preferir (eu chamo de falta de pesquisa para o roteiro). Em certo momento do filme, a Enterprise "desova" uma pequena nave de transporte civil, pertencente a um velho conhecido da tripulação (e dos fãs), bem no sistema estelar do planeta Kronos, a capital do império Klingon. E o fazem a vista de todos, sem qualquer tecnologia de camuflagem ou coisa parecida (será que os Klingons de JJ são mais pacientes que os nossos???). Em nenhum momento é explicado como eles conseguiram isso. Outra coisa que pode irritar os fãs é o design de maquiagem FX e figurino dos Klingons. A raça guerreira, outrora orgulhosa de suas barbas e vastas cabeleiras, é retratada pela equipe de JJ Abrams, sem nenhum pelo sobre suas cabeças...E USANDO CAPACETES!!! 
         A impressão que se tem é que Abrams deu de ombros quanto a certos aspectos visuais da franquia, talvez por não ser um fã e não estar nem aí para esses detalhes. O que é uma pena. Se ele seguisse o exemplo de George Lucas, o criador de Star Wars, a saga que realmente mora em seu coração, ele seria mais atento aos detalhes (o velho George é famoso por monitorar tiranicamente todos os departamentos de produção). Duvido que ele deixasse um figurinista de Star Wars mexer um centímetro sequer nos mantos Jedi, por exemplo.
         Também incomoda um pouco o fato de JJ Abrams ter "jogado sujo" quanto a um segredo do roteiro que é vital para a trama: o vilão. Há momentos em que parece que estamos vendo o último episódio de sua mais polêmica criação, a série LOST. Temos a nítida sensação de que o diretor está se divertindo a nossas custas. E, provavelmente, isso é verdade. 
       No entanto, cabe ressaltar que o diabólico John Harrison, vivido pelo excelente Benedict Cumberbatch (Sherlock), é um vilão magnífico. Um brilhante psicopata, na mesma tradição de Hanibal Lecter. Tão bom que, além de manipular Kirk e sua tripulação, é capaz de enganar até mesmo o espectador mais crítico. Um famoso crítico do centro do país disse que há momentos em que ele "defende e até aplaude" as motivações do vilão. Pois é. E olha que, de tipos como John Harrison, Brasília está cheia. Todo o cuidado é pouco!
        Mas a maior forçação do filme, vem mesmo das relações entre os personagens  Perto do fim do filme, um dos momentos mais dramáticos de toda a cronologia de Star Trek é revisitado, por um ângulo inverso (se eu falar mais do que isso, vira spoiler). E assistimos algo que soa absolutamente ridículo para quem assistiu a cena original. A homenagem acaba virando uma paródia involuntária. Spock, que não chorou nem mesmo por sua mãe, no filme anterior, acaba se afogando em emoções por causa de - - - - - - - - - - - , numa cena tão forçada que vira vergonha alheia, até para quem não conhece nada dos filmes originais. Para alívio do público, JJ encaixa, logo em seguida, uma cena de ação digna de seu "Missão impossível", só que com um visual ainda mais  espetacular, no clímax do filme.
      Mesmo com as deficiências de roteiro, o filme ainda é um ótimo espetáculo e vale a pena ser conferido. O final, além de muita ação e drama, também encerra uma importante lição de moral, que poderia servir perfeitamente tanto para George Bush quanto para Barack Obama.
      JJ Abrams provavelmente não estará na direção do próximo Star Trek. Contudo, ele não descarta essa possibilidade. Só que, com a agenda já tomada pela produção de Star Wars episódio VII, ainda é cedo para especulações. De qualquer modo, a Enterprise parece ter reencontrado seu curso no cinema e está pronta para audaciosamente ir rumo a um próximo longa da franquia.
       


  

        



Multiverso Comic Con. Painel: A homossexualidade nos quadrinhos.

            

           Multiverso Comic Con 2013:   Painéis

            A homossexualidade nos quadrinhos.  

        Por Zaius Primati. 


               Durante essa terceira edição da Multiverso Comic Con, um dos temas mais polêmicos dos últimos tempos no meio geek/nerd, foi debatido com a participação do público: a questão da homossexualidade nos quadrinhos.  Recentes ações de editoras das HQs no sentido de dar maior visibilidade aos  personagens gays e lésbicas, principalmente em histórias de super-heróis, tiveram reações diversas do grande público, muitos celebrando a diversidade, enquanto outros repudiavam o que consideram uma violação aos cânones da construção de suas HQs. 

    Entre os casos mais famosos estão a revelação da homossexualidade do lanterna verde Alan Scott, o lanterna verde original, personagem que foi deixado em segundo plano após a reformulação do Lanterna Verde que criou Hal Jordan, atualmente o mais popular lanterna e aquele que aparece no recente filme da Warner, o casamento gay de Estrela Polar, um mutante que integrou a tropa Alfa, da Marvel Comics, e o relacionamento gay entre Wolverine , sim ele mesmo, e Hércules, numa revista da Marvel. Mas não se trata do Wolverine que conhecemos e sim uma versão desse personagem em uma terra paralela. 




Wolverine e Hércules



     É claro que as ações inclusivas não representam necessariamente uma visão progressista. Como foi falado no painel, nos anos 70, personagens negros foram colocados nas histórias em quadrinhos mais como um apelo comercial para atingir o público afro-americano do que por qualquer outro motivo. Mas eles se firmaram e hoje são comuns protagonistas negros, como Nick Fury,   interpretado nos filmes Marvel por Samuel L. Jackson, e de outras etnias.


Smauel L. Jackson como Nick Fury 

             O processo de inclusão nos quadrinhos, no fim das contas, não é  muito diferente da inclusão em outros aspectos da sociedade. O imperador Constantino adotou o cristianismo quando viu que boa parte de seu império já era cristão e que isso seria, no fim das contas, uma boa jogada de marketing (sem querer ofender quem acredita, por dogma de fé, na história da cruz  que ele viu pairando sobre o campo de batalha, com a frase "com este sinal vencerás". Estou falando em termos históricos, não religiosos).

           Voltando ao processo de inclusão, não deixa de ser engraçado que, quando a Marvel lançou o Demolidor, um herói cego, provavelmente o primeiro herói deficiente físico da história dos quadrinhos,  muitos ficaram revoltados com o que chamavam de exploração barata dos deficientes. Muita gente sim. Só que não os deficientes! Stan Lee e Bill Everett, criadores do herói, receberam diversas cartas de apoio e agradecimento das associações de deficientes visuais dos estados unidos, pelo que consideraram um marco na história da inclusão e um bálsamo para sua autoestima.






             Em relação ao maior envolvimento de personagens gays e lésbicas nos quadrinhos mainstream, os debatedores chamaram a atenção a um ponto muito importante: é muito hipócrita da parte de certos nerds, que foram eles mesmos hostilizados e sofreram bullying na escola, querer transferir essa hostilidade em relação a personagens homossexuais nos quadrinhos.

           James Robinson, o autor que revelou a homossexualidade do lanterna verde Alan Scott no ano passado, diss que as críticas mais hostis que recebeu via tweeter vieram do Brasil. O autor disse que a criação do Alan Scott gay foi idéia sua, atendendo a uma orientação da DC de introduzir mais diversidade sexual nas HQs. Ele disse que, só de vingança, daria um namorado brasileiro a Scott.  Só espero que ele saiba representar um brasileiro, seja qual for sua orientação sexual. Na modesta opinião desse seu cronista, triste mesmo seria ver o tal namorado brasileiro com cara de mexicano, falando castelhano e com o nome de Juan...
         Assista abaixo um trecho do debate:






            Abraços simiescos e até o próximo post.

                  Fui!!!







           
          


         

           

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Robô Curiosity da NASA, encontra a primeira forma de vida em marte



Extra! Extra! Confirmado! Robô curiosity encontra 
a primeira forma de vida em Marte:

                    José Dirceu!


O robô curiosity, controlado pelos manifestantes, caça José Dirceu pelo planeta vermelho, com poderosos feixes de laser. Foto: Flash Gordon, via Alex Raymond.

Por Zaius Primati

               Pasadena, Califórnia- Na madrugada de hoje, um técnico de plantão no comando da missão Curiosity da NASA, no JPL, o laboratório de propulsão a jato de Pasadena, captou sinais do robô em solo marciano. Ele, inequivocamente, encontrou vida na superfície, só que de origem terrestre. Tratava-se de José Dirceu de Oliveira e silva, usando um surrado traje espacial soviético que ele afanou de um museu cubano em 1970. 


José Dirceu, em 1970, apenas aguardando
um vacilo do vigia do museu de Havana, para dar
o bote.


               Totalmente perplexo, o técnico, um engenheiro que tem apenas mestrado  o Sr. Howard Joel Wolowitz, perguntou através do rádio da Curiosity, o que o Sr. José Dirceu estava fazendo lá:

               "Meu filho, eles derrotaram a PEC 37 por 430 votos a 9, tornaram a corrupção no congresso crime hediondo, tudo isso em menos de uma semana. Tive medo que eles fossem na companheira Dilma pedir a minha cabeça...".

Howard J. Wolowitz, no exato momento em que captou a transmissão de José Dirceu.


José Dirceu explica por mímica o verdadeiro tipo de operação que  ele foi fazer em cuba...

               Perguntado  sobre como chegou tão rápido no planeta vermelho se a dobra espacial só será inventada daqui a 50 anos, Dirceu foi bastante direto:

                "Meu filho, que trem é esse de dobra espacial??? Eu vim a pé mesmo! Ponha 200 milhões de pessoas furiosas correndo atrás de você pra ver o que é bom pra tosse. Você acaba fazendo milagres!"

                 Como a transmissão estava falhando devido à passagem da zona fantasma pela órbita de marte (onde estão presos o general Zod, Hugo Chávez, Mao Tse Tung, Damon Lindelof, e muitos outros) o Sr. Wolowitz resolveu ser rápido e fazer uma última pergunta:

 "O senhor gostaria de dizer suas últimas palavras? Perderemos o sinal  em menos de trinta segundos".

                 "Sim"-Respondeu Dirceu- " EU TERIA CONSEGUIDO SE NÃO FOSSEM AQUELES GAROTOS INTROMETIDOS E AQUELE CACHORRO IDIOTA"
                      
                  Fim da transmissão (se tivermos sorte!)

                  
                 

  

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Multiverso Comic Con 2013: Salas Temáticas


Multiverso Comic Con 2013: As salas temáticas e o universo nerd.

 Por Zaius Primati


           O nome dessa convenção, apesar de fazer alusão  específica aos quadrinhos, é mais do que apropriado. E isso se deve ao fato de que os fãs que a frequentam,  abrangem um largo espectro de admiradores de diferentes mídias: quadrinhos, cinema, TV, literatura, games, RPG e, até mesmo o Cosplay, que não é mídia, mas acaba se tornando uma arte derivada dos quadrinhos, animações, cinema, etc, mesclada com o teatro. E dentro de cada uma dessas mídias e gêneros (aventura, fantasia, scifi, terror, etc), ainda existem os admiradores de subgêneros tais como espada e magia, Cyberpunk, terror gótico, tokusatsu, Steampunk, e mais uma infinidade de subgêneros que daria para encher os ramos da Ygdrasil , a árvore dos nove reinos da mitologia nórdica.
          Engana-se quem pensa que todos os nerds possuem os mesmos gostos, as mesmas paixões por esses mundos ficcionais e suas  vertentes. O nerdverso é muito mais do que vasto. É incomensurável. Só para provar minha tese, pensei em perguntar a participantes da convenção quem é a "criatura" mais odiada do nerdverso. Valiam tanto pessoas quanto personagens de quadrinhos, filmes, séries, etc. 
        Em minha ingenuidade, imaginei que os candidatos mais votados, certamente seriam Rob Leifeld, o ilustrador que "reinventou" a anatomia humana (e animal também!), Damon Lindelof (roteirista de LOST e de Prometheus), Jar Jar Binks (Esse dispensa apresentações...acho) e Trevor Slatery. Se você não o conhece, faça um favor a si mesmo e não busque por ele no Google. Além de ser um Spoiler em potencial caso você não tenha visto um certo filme digamos, "ferroso",  você ainda corre o risco de acabar como George Taylor, no final de "O planeta dos macacos", de 1968. Ou seja, encontrando algo do que não vai gostar nem um pouco...
            Só que o resultado foi bem diferente de minhas previsões. Desisti com apenas três entrevistados, escolhidos aleatoriamente:


            Como diria o Bátima em "feira da fruta", esse vídeo não prova nada, só prova que o curinga é um...Ahááááá! Ei, povo! Esse blog é um blog de família. Não posso ir fazendo esse tipo de brincadeiras impunemente. Como é que fica aquele papo de "verdade, justiça e os bons costumes"? Vocês terão que se contentar com um humor mais inocente e com alguns trocadilhos que a maioria de meus amigos abomina...
        E falando em família, fiquei muito emocionado de ver famílias participando do evento. Vi pais e mães com filhos das mais diferentes idades assistindo as palestras, o desfile de cosplays, e outras atrações, como as salas temáticas.


Um Pequeno fã de Pokemon
"Eu escolho você, Pikachu!"

        Nessa edição da Multiverso Comic Con, estiveram presentes grupos como o Whovian RS, o Conselho Jedi do Rio Grande do Sul (CJRS), Os Herdeiros de Sonserina (grupo de Fãs de Harry Potter), além das salas de Games, RPG e quadrinhos independentes.
          Como marujo de primeira viagem numa convenção desse tipo, fiquei fazendo um reconhecimento do local, antes de começar com as fotos e algum papo com os grupos de fãs. A primeira sala que visitei foi a do CJRS. Já assisti a algumas edições da Jedicom em Porto Alegre e tenho amigos nesse grupo. Como sempre, o pessoal da Jedicom organizou uma sala bastante concorrida (as vezes ficava meio difícil tirar fotos, dada a lotação do local).

                                             CJRS
       
                                          Visitantes admiram o tabuleiro de xadrez Star Wars Style                                      

                                          Han Solo e seu tauntaun, entre outras figuras


Amidala, em diferentes trajes

Aháááá! Jar jar Binks! Eu sabia...

                                          Muitas idéias legais para presentes no lado cool
                                          da força...
                                       



        Por sorte, essas fotos foram batidas no sábado, em horários estratégicos. Como sempre, o CJRS fez bonito e, no domingo, realizou mais um de seus populares sorteios de itens de Star Wars. A sala ficou tão cheia que, após sair de um dos painéis, não consegui entrar para assistir o sorteio.

Uma joven Sith 
  pelo menos é o que a cor do sabre sugere. Se for alguém do universo expandido fico devendo. Afinal, o que é que eu sei sobre isso? Sou apenas um co-irmão trekker...

                 Convenções de quadrinhos são sempre uma festa. E é muito difícil escolher para onde ir sem dar uma passeadinha pelo lugar. Em meio ao corre-corre de fotos, entrevistas e painéis, fui, digamos, 
me regenerar, na sala temática do Whovian RS, o fã clube de Doctor Who. Ah, que sala maravilhos essa, onde viajantes cansados  podem dar uma paradinha para um bom chá com biscoitos. God save the Queen!




A simpática placa que eu encontrei subindo a escadaria

A TARDIS: a solução de seus problemas de espaço e tempo
( literalmente)


As diferentes regenerações do Doutor



Aliados, inimigos, e companions


O décimo segundo Doctor???


Uma palavrinha com a Trix, da coordenação do Whovian RS:



O humilde cronista que vos escreve não se conteve e foi 
obrigado a dar um rolézinho na TARDIS...


             Além dessas duas salas, também marcaram presença os fãs de Harry Potter e seus colegas de Hogwarts. 


                Houve também um espaço para os artistas do quadrinho independente e exposição de HQs vintage:









Esse  cartaz me deixou com tanto medo que eu quase conjuro o Mun Rá 
ao invés de um patrono...




Hogwarts, sempre bem representada


O pessoal da Sonserina, num momento de descontração,
Aproveitando um descuido de Severo Snape.



                       
             Havia também uma sala para os Gamers. Kurt Wagner apareceu por lá para conferir:
                                         




A turma do RPG e jogos de tabuleiro também marcou presença:



O mesmo vale para os colecionadores de Memorabilia Marvel...



...E DC Comics.


               

           E assim termina esse resumão das salas temáticas. Amanhã, se for da vontade do Criador e a conexão permitir, etou postando mais material do eevento.
            Vida Longa e próspera e que a força esteja com vocês.
             FUI!!!!












                     

                               






terça-feira, 25 de junho de 2013

Cinema: Superman, o Homem de aço.



   Superman, o homem de aço:  O que a trilha 

sonora do novo filme pode nos dizer sobre ele?







O que a trilha sonora de Hans Zimmer pode nos dizer sobre “Superman, o homem de aço”?
 Por   Zaius Primati

           Neste domingo, 23 de junho, eu estava na Multiverso Comic Con, em Porto Alegre. Um dos painéis era sobre o novo filme do Super Homem, que estreia no Brasil  no próximo dia 13 de Julho.  Após o debate entre os convidados, foi aberto um espaço para perguntas.

         Lógico que, como bom "Old School" nerd que sou, perguntei o que eles achavam da ausência da música John Williams no novo filme. Para minha decepção, praticamente nenhum dos presentes levantou qualquer objeção a esse fato. Perguntados sobre se havia alguém presente que tinha assistido o filme original de Richard Donner no cinema, apenas duas mãos se ergueram. A minha, que assisti o filme com 14 anos de idade e a de Sidney Gusman, da Maurício de Souza Produções, que o assistiu aos 12 anos de idade. Além de mim, apenas ele parecia se lembrar do quão épica era, ou melhor, é, a trilha sonora de John Williams para o super-herói mais famoso das histórias em quadrinhos da DC. Fiquei triste. Senti como se um grande amigo tivesse sido esquecido em seu leito de morte, como se o próprio Kal-El tivesse morrido nas mãos de Apocalipse e todos tivessem superado isso, seguido com suas vidas, e sua estátua, agora, nada mais fosse do que um caríssimo banheiro para pombos, abandonado em algum parque de Metrópolis.

      " Eu estou cansado de ouvir John Williams", disse meu jovem interlocutor. "Eu estou cansado de ter John Williams me dizendo o que sentir a cada cena de um filme", prosseguiu ele.  Eu, não muito gentilmente, confesso, lembrei-o de que eu teria apreciado muito a opinião dele, se essa realmente fosse a sua opinião, e não a de Terry Gillian, que usou exatamente AS MESMAS PALAVRAS ao se referir a John Williams, em dezembro de 2011 (como fã de Williams eu jamais esqueceria isso). Acrescentei que era coerente.  Afinal, se Zack Snyder queria um Superman menos poderoso, mais realista, nada mais apropriado do que uma música menos poderosa.

             Fui embora do evento pensando no que ouvi. Não tenho dúvidas de que será um belo filme, independente da música. Muitos fãs não estão nem aí. Basta qualquer coisa medianamente audível. Ou nem isso. Há até quem sugerisse que um heavy metal daria conta (Higway to Hell cairia como uma luva, sim... para um filme do LOBO). Mas algo naquela trilha me incomodava.

          Então resolvi ouvi-la, despido de meus preconceitos e buscando uma quase impossível avaliação isenta.  Pedi a um maestro amigo meu um artigo sobre isso, mas, como o cara é ocupadíssimo e nunca lê seu FACEBOOK, vocês terão que aceitar a palavra de um trompetista amador que parou na lição número 76 do método Bona de solfejo.

         Música vem do grego, onde significa “a arte ou técnica das musas”. Então, de certo modo, é impossível que alguém não sinta nada ao ouvir um tema musical. Minha filha de cinco anos fica apavorada quando ouve músicas com um tom sinistro ou ameaçador, mesmo sem ter visto os filmes de onde essas músicas vieram. E é para isso que elas servem. Assista um filme iraniano onde só se ouve o vento no microfone, para ver como é bom...

        Dito isto, o que a música dos dois filmes , o "Superman -The Movie" de Donner  e o "Man of  Steel de Snyder", pode nos dizer sobre ambos?

        A poderosa marcha de John Williams é esmagadora e já chega arrebentando:  um ser  com poderes divinos desceu das estrelas e fez da Terra seu lar adotivo, lar que defenderá contra todas as ameaças. Seu tema evoca vividamente o vôo. Como lembrou Sidney Gusman, “você acreditará que homem pode voar”, que é também o slogan da propaganda do filme de 1978.

       A trilha de Zimmer evoca estranheza, mundos alienígenas, emoções violentas, batalhas e por aí vai. Esse clima é criado com o uso de uma percussão que lembra antigos tambores de guerra celtas e escoceses, as notas mais graves do piano e os sons eletrônicos minimalistas que Zimmer tanto ama, como aquele irritante e insano ruído rascante que ele usou para representar o Coringa em “O cavaleiro das trevas”. Afinal, parafraseando Sidney Gusman “Vai ter porrada, nerdaiada!”. E não podia ser diferente. Afinal, Zod é o vilão do filme.

       Então, o que é que essas duas trilhas têm em comum que possa representar o mais poderoso herói da DC comics em toda (ou quase toda, como querem alguns) a sua glória?

         Em recente artigo de Fábio Scrivano  para a Revista da Cultura, Mark Richards, PhD em teoria musical, explica o motivo do tema de Williams ser tão icônico. “O tema é uma marcha, o que sugere força. E a melodia emprega grandes intervalos ascendentes entre as notas, em particular aquele chamado de quinta perfeita, usado para denotar heroísmo, bem como os trompetes da orquestração ". O maestro também destaca o fato da música crescer gradativamente, criando um senso de expectativa, como se a plateia estivesse prestes a presenciar algo extraordinário. E acrescento: é um tema que você sai assoviando do cinema. Tente assoviar o tema de Michael Kamen para “X-Men, o filme”. Conseguiu?  Não? Entendeu qual é a sensação? É por aí.

         Mas, e quanto a “O Homem de aço?”. Desconsiderei os temas de batalha e fui direto para  “What are you going to do when you are not saving the world?”, que sintetiza o espírito do filme. Eu, francamente, não estava interessado em saber, pela música, qual é a sensação de viver em Krypton ou como é trocar socos com o general Zod. Tudo o que eu queria saber é: quem é Kal El? O que faz dele quem ele realmente é? Como ele se sentiria vivendo num mundo de criaturas frágeis como bolhas de sabão e, ainda assim, tentando ajudar e ser aceito por elas, enfim, tentando encontrar seu lugar no mundo, como todos nós.

O tema começa com um piano bastante sutil. Evoca solidão, melancolia, dúvida, perda. Lembra demais aquelas cenas dramáticas sem diálogos, que um outro compositor, Michael Giacchino, sabe ilustrar tão bem com seu piano, e arrancar lágrimas até dos mais frios entre os mortais. Então, a música começa a embalar, com uma percussão que lembra as antigas cadências britânicas de que já falei. É um som tenso, violento. Obviamente, está se referindo aos obstáculos da jornada do herói.
    
         Mas, quando você pensa que a trilha vai descambar para uma música puramente guerreira, acordes de cordas eletrizantes e poderosos metais se insinuam, num crescente, se elevando acima dos tambores da guerra, subindo, cada vez mais, rumo aos céus, rumo à luz, rumo ao sol, fonte dos poderes do herói. Para o alto, e avante! 

         E não me venham com esse papo de que “é um filme mais sombrio, para um público mais adulto”. Se a luz não fosse a essência do herói, a capa de “Os melhores do mundo” não teria Superman cercado de pombos ao amanhecer enquanto Batman está rodeado por morcegos e pela escuridão. E é essa luz, em forma de música, que ouvimos, elevando-se acima da escuridão e da violência da guerra. É a esperança.

      Então, quem é Kal El afinal de contas?

      No filme de 78 o tema de John Williams não deixa dúvida: o destino do último filho de Krypton já estava traçado por Jor El, seu pai biológico. Apesar de todas as suas dúvidas e angústias, Clark Kent desaparece do filme assim que ele encontra as memórias de seu pai, na fortaleza da solidão. O Clark que trabalha no planeta diário é só uma casca para Kal El, quase um alívio cômico. Superman já está nos céus. Cabe a ele descer à terra e salvar os mortais, mesmo que tenha que compartilhar as nossas dores e o nosso sofrimento.

      Em “O homem de aço”, a música de Zimmer parece evocar uma história diferente: Clark não desaparece após deixar a fazenda de sua infância. Ele, como já foi dito por parte da crítica, é “o relutante defensor de nosso planeta”.  Ele não está nos céus. Ele caminha entre nós, mas não é um de nós. E o tema de Zimmer demonstra isso, de modo claro.  

Se o Superman de Williams está descendo à Terra, o de Zimmer, está decolando, se elevando acima de suas dúvidas, suas perdas sua tristeza, rumo à luz e a compreensão, rumo à esperança e,  levando com ele, as esperanças de sua irmã adotiva, a humanidade. Sim, é uma música minimalista, muito menos complexa que a de John Williams. Em termos de evocação heróica e tonalidade épica, apanha até do comparativamente modesto tema que Alan Silvestri compôs para “Capitão América”. Mas transpira humanidade por todos os lados.

Se Williams nos mostrou com música como é o filho de deuses descendo das estrelas, Zimmer nos mostra o que é o filho de dois fazendeiros do Kansas vencendo a si mesmo e ascendendo ao infinito. Perto do final da música, os próprios anjos parecem saudar, com um glorioso e apoteótico coral, o homem que se tornou herói, o mortal que se tornou divino.  Ouvi algumas versões dessa música em que, logo após o ápice do tema, há um anticlímax, digamos, meio frustrante. Apenas para usar uma metáfora inocente (pode haver crianças lendo isso. Li minha primeira resenha aos oito anos...), é como se você estivesse comendo sua torta favorita e, perto da melhor parte do recheio, alguém vem e leva a fatia que você queria. Mas, se isso servir a algum propósito da trama, paciência.

Posso me sentir o maior traidor dizendo isso, mas estou pronto para o novo tema. Sempre haverá um lugar para o extraordinário tema de John Williams em nossos corações. Ele está lá e fez por merecer. Ele é eterno. Mas Zimmer parece ter aprendido que ele jamais poderia “peitar” uma lenda e consegue se safar do dilema indo em outra direção.


E quanto a Kal El / Clark Kent, ele pode ser filho de seres divinos, pode ser mais rápido que uma bala, mais forte que uma locomotiva, invulnerável, indestrutível. Mas nada disso jamais será maior que o amor que ele recebeu de um humilde casal de fazendeiros do Kansas. E é nesse amor, e na compaixão que ele gerou, que residem seus maiores poderes.



Ouça abaixo e compare:

O original...




...E a trilha sonora do novo filme:

http://www.youtube.com/watch?v=y2mb6NXYGm8