sexta-feira, 28 de junho de 2013

Cinema: Star Trek - Além da escuridão

      

      Cinema

      Star Trek-Além da escuridão. Crítica

      



       Por Zaius Primati





        Logo hoje, quando estreia o blockbuster "Guerra Mundial Z", com o cara que é casado com a Angelina Jolie (qual é mesmo o nome dele? Brincadeirinha. Eu sei que é o cara que fez aquele clássico chamado "Lendas da Paixão, kkkk), sou lembrado por amigos que Star Trek-Além da escuridão já estreou faz "horas" e eu não fiz minha resenha, algo imperdoável para um trekker old school como eu. É que as últimas semanas foram loucas pra todo mundo (alguém tem dúvida disso???) e, além da revolução em curso, também estou me revolucionando profissionalmente. Só que, além de tudo isso, também tenho uma vida familiar e pessoal, que também exige atenção. Mas lá vai:
       Começo perguntando: Além da escuridão-Star Trek  ou  Star Trek -Além da Escuridão?  Não. Não foi erro de digitação.  Você viu mais ou menos o que eu li nos cartazes standups dos cinemas. Muita gente não sabe que se trata de um filme de Jornada nas estrelas, como chamávamos a franquia, antes que a Paramount resolvesse "fortalecer sua marca", assim como fez a Disney, transformando o nosso velho conhecido Caco, o sapo, num tal de Kermit. Nos cartazes de cinema, o nome da franquia aparece em letras pequenas, quase como se a equipe de marketing tivesse vergonha de dizer para a gurizada "sim, é aquela série que tem o doutor Spock (aaaarrrgghhh!!), mas é coisa nova, cheia de ação, aventura e coisa e tal". E, se as novas gerações parecem ter aversão ao clássico, paciência, adote-se essa estratégia de dizer que "esse não é o Star Trek de seus pais".
      Quanto ao filme em si, JJ Abrams, já provou que é um bom artesão, que sabe fazer cenas de ação espetaculares, que sabe muito bem dosar o humor, a aventura, o mistério. O filme é realmente uma montanha russa de emoções e conta com uma trilha sonora  competente de Michael Giacchino e um visual belíssimo, especialmente se visto em IMAX 3D, como o que eu encontrei no Cinespaço Bourbon Wallig, em Porto Alegre.
       O filme certamente funciona. Logo de cara, encontramos Kirk e McCoy, correndo por suas vidas, tentando escapar de uma tribo de alienígenas de um planeta primitivo que eles estavam monitorando. A cena lembra muito, e não por acaso, a desabalada carreira de Indiana Jones, no início de "Os Caçadores da Arca Perdida", afinal, Spielberg é mais do que o ídolo máximo de JJ Abrams. É seu mentor e também o cara que lhe arranjou o emprego de seus sonhos: dirigir o próximo Star Wars (antes conhecido como "Guerra nas estrelas"), ao sugeri-lo para George Lucas e a nova equipe de produção da saga Jedi.
       A construção de personagens é boa. Temos um engenheiro Scotty tão apaixonado por sua Enterprise quanto o original (que é homenageado numa cena na qual o teletransporte é operado pelo filho do ator que o interpretava, James Doohan), só que mais engraçado e maluco. O Sr. Sulu e o alferes Tchecov também fazem por merecer, embora com muito menos destaque no filme. E McCoy continua com seu humor ácido, lembrando muito o personagem da série original, inclusive fisicamente. E Uhura, continua forte, decidida, em certas cenas, roubando o filme de Kirk e Spock.
           O filme tem vários easter eggs, referências à série clássica, que fazem as delícias dos fãs do original sem comprometer a ação ou o entendimento de quem nunca viu nada de Star Trek.  Michael Giacchino, como sempre, com seu piano e orquestra, sabe como nos trazer para dentro da história com apenas alguns acordes.
        Se você nunca viu nada de Star Trek, vai achar esse filme muito bom, talvez até excelente. Se for o caso, pode parar de ler aqui mesmo.
           Do ponto de vista dos fãs e , também, dos cinéfilos em geral, o filme tem vários furos, que podem ser creditados à "licenças poéticas", se você preferir (eu chamo de falta de pesquisa para o roteiro). Em certo momento do filme, a Enterprise "desova" uma pequena nave de transporte civil, pertencente a um velho conhecido da tripulação (e dos fãs), bem no sistema estelar do planeta Kronos, a capital do império Klingon. E o fazem a vista de todos, sem qualquer tecnologia de camuflagem ou coisa parecida (será que os Klingons de JJ são mais pacientes que os nossos???). Em nenhum momento é explicado como eles conseguiram isso. Outra coisa que pode irritar os fãs é o design de maquiagem FX e figurino dos Klingons. A raça guerreira, outrora orgulhosa de suas barbas e vastas cabeleiras, é retratada pela equipe de JJ Abrams, sem nenhum pelo sobre suas cabeças...E USANDO CAPACETES!!! 
         A impressão que se tem é que Abrams deu de ombros quanto a certos aspectos visuais da franquia, talvez por não ser um fã e não estar nem aí para esses detalhes. O que é uma pena. Se ele seguisse o exemplo de George Lucas, o criador de Star Wars, a saga que realmente mora em seu coração, ele seria mais atento aos detalhes (o velho George é famoso por monitorar tiranicamente todos os departamentos de produção). Duvido que ele deixasse um figurinista de Star Wars mexer um centímetro sequer nos mantos Jedi, por exemplo.
         Também incomoda um pouco o fato de JJ Abrams ter "jogado sujo" quanto a um segredo do roteiro que é vital para a trama: o vilão. Há momentos em que parece que estamos vendo o último episódio de sua mais polêmica criação, a série LOST. Temos a nítida sensação de que o diretor está se divertindo a nossas custas. E, provavelmente, isso é verdade. 
       No entanto, cabe ressaltar que o diabólico John Harrison, vivido pelo excelente Benedict Cumberbatch (Sherlock), é um vilão magnífico. Um brilhante psicopata, na mesma tradição de Hanibal Lecter. Tão bom que, além de manipular Kirk e sua tripulação, é capaz de enganar até mesmo o espectador mais crítico. Um famoso crítico do centro do país disse que há momentos em que ele "defende e até aplaude" as motivações do vilão. Pois é. E olha que, de tipos como John Harrison, Brasília está cheia. Todo o cuidado é pouco!
        Mas a maior forçação do filme, vem mesmo das relações entre os personagens  Perto do fim do filme, um dos momentos mais dramáticos de toda a cronologia de Star Trek é revisitado, por um ângulo inverso (se eu falar mais do que isso, vira spoiler). E assistimos algo que soa absolutamente ridículo para quem assistiu a cena original. A homenagem acaba virando uma paródia involuntária. Spock, que não chorou nem mesmo por sua mãe, no filme anterior, acaba se afogando em emoções por causa de - - - - - - - - - - - , numa cena tão forçada que vira vergonha alheia, até para quem não conhece nada dos filmes originais. Para alívio do público, JJ encaixa, logo em seguida, uma cena de ação digna de seu "Missão impossível", só que com um visual ainda mais  espetacular, no clímax do filme.
      Mesmo com as deficiências de roteiro, o filme ainda é um ótimo espetáculo e vale a pena ser conferido. O final, além de muita ação e drama, também encerra uma importante lição de moral, que poderia servir perfeitamente tanto para George Bush quanto para Barack Obama.
      JJ Abrams provavelmente não estará na direção do próximo Star Trek. Contudo, ele não descarta essa possibilidade. Só que, com a agenda já tomada pela produção de Star Wars episódio VII, ainda é cedo para especulações. De qualquer modo, a Enterprise parece ter reencontrado seu curso no cinema e está pronta para audaciosamente ir rumo a um próximo longa da franquia.
       


  

        



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